Alimente-se com a sua beleza

O corpo é um mapa, um jardim. Nessa vida moderna apressada de maratonistas, como chama aqui a psicóloga Marina Ramos, não temos tempo para nada e esquecemos de cuidar do corpo e de alimentar nossa consciência corporal.
"Quando se olhar no espelho novamente", convida Marina, "procure ver a beleza da perfeição do seu corpo. Se aproprie da sua beleza, e exale esse perfume por onde passar".
Precisamos cuidar de nos reciclar, de evitar a poluição de atitudes que tragam dor, de alimentos que nos prejudiquem... Não esqueça nunca de sentir e cuidar do seu corpo. Alimente-se com a sua beleza.


Conversando com uma amiga que voltou há pouco tempo da travessia do caminho de Santiago de Compostela, fiz a pergunta: "Então, qual foi o lugar mais incrível em que você esteve?" E ela respondeu: "O meu corpo". O Caminho tinha dado a ela a perfeita noção do seu corpo vivo, suportando frio, cansaço, chuvas... A noção do que ela era capaz de suportar e da beleza que seu corpo era capaz de sorver.
O tempo é pouco. A rapidez da modernidade faz com que tudo seja a jato. Atravessamos ciclos sem nem saber ao certo como. Temos remédios para quase todos os mal estares. E o passar mal, ou melhor, o passar o mal, deixa de ser uma jornada do guerreiro, uma travessia do corpo que conhecerá seus limites e potências, para ser a descontinuidade de momentos.

Vamos levando o nosso corpo a pular etapas e correr em direção à modernização, junto com a nossa sociedade de maratonistas. Isso acontece quando consumimos medicamentos sem necessidade, quando marcamos cesarianas por conforto, quando nos esquecemos de perceber se nosso corpo tem fome, frio, ou se estamos confortáveis e suportando determinadas situações.

Somos parte do planeta, e exatamente como ele, estamos com urgência da palavra "cuidado". Como uma planta, às vezes arrancamos os nossos brotos de possíveis flores antes mesmo dessas nascerem por medo e ansiedade causadas pelo novo que virá, ou esquecemos de regar as nossas raízes, tão enfraquecidas pela dúvida de que terreno, de que solo é esse no qual estou. É preciso conhecer, aceitar e consagrar o nosso solo. Que seja o planeta, sua cidade, sua casa ou um espacinho sagrado para você. É preciso consagrar o solo.
Nosso corpo é um mapa. Nele, está registrada a forma como nos cuidamos. Talvez não tenhamos recebido todo o cuidado de que precisávamos na infância, mas hoje podemos, nós mesmos, suprir nossas faltas procurando conhecer nossas necessidades e nos dispondo a cuidar.
Podemos ser plantas de raízes grandes, prontas para crescer, mas se nos colocamos em pequenos potinhos que impedem essas raízes de se expandirem, estamos apenas nos boicotando. Como uma planta, adoecemos. Causamos feridas que nós, psicólogos, nomeamos de ansiedade, depressão, síndrome do pânico, entre outras.

Seus pés e pernas são suas raízes. Eles te mantêm em pé. Olhe para eles, e se pergunte: Como estão sendo cuidados? Eu confio nas minhas raízes?
Se olhar no espelho, e procurar em você o tronco de uma árvore, vai encontrá-lo em sua barriga, peito e ombros. Estes estão capazes de armazenar nutrientes e transportar energia? Ou armazenam mais energia, raiva, medo, do que necessário? Olhe para os alimentos que você ingere. Olhe para os sentimentos que você ingere e reflita sobre a forma como você se nutre.
Os seus braços são os galhos capazes de dar frutos e folhas. Como você toca, acaricia, o que você produz? Como uma árvore, é importante que você possa alimentar o outro, que você possa deixar para a sua comunidade algo de positivo. Que seja a beleza de flores e folhas, ou a sombra de galhos, ou frutos saborosos. Essa sensação de pertencer e ajudar faz com que nos percebamos parte ativa do mundo. Cuidar do outro também nos ensina a cuidar de nós mesmos e do planeta. E esse sistema se retroalimenta. Ao cuidar, você também será cuidado.
E a copa da árvore, aquela capaz de alcançar o céu, a possibilidade de ligar você com algo superior em pensamentos, meditação e intenções, essa precisa que todo o sistema anterior esteja funcionando bem para crescer cada vez mais. A sua copa quer crescer? Não se esqueça que o desejo é um ótimo adubo.

Quando cuidamos de nós mesmas, quando somos jardineiras de nossa alma e corpo, brotam as flores mais lindas. Exalamos beleza e, como o efeito dominó, o cuidado consigo e com o outro transpassa, perpassa, permeia. Quando se olhar no espelho novamente, procure ver a beleza da perfeição do seu corpo. Não importa se o tronco é maior ou menor, ou se os galhos são fortes ou mais delicados, existem árvores e plantas de todos os tipos. Porém, todas são belas. Todas são ricas na sua singularidade. Se aproprie das suas. Se aproprie da sua beleza, e exale esse perfume por onde passar.
Tome consciência do seu corpo, encarne a atenção para esse templo que você habita. Cuidemos da reciclagem, de não poluir, da extinção de animais. Mas também cuidemos de nos reciclar, de evitar a poluição de atitudes que tragam dor, de alimentos que nos prejudiquem, e cuidemos da extinção de sentimentos que alimentem a alma. Alimente almas. A sua e a do próximo. Alimente com a sua beleza.

MARINA RAMOS
Psicóloga, Especialista em Psicodrama e Poeta

www.salaspera.blogspot.com

www.marinarsandim.blogspot.com

marina.ramos.mr@gmail.com

SÃO PAULO/SP







Foto (topo): PATRÍCIA POLLONE, Produtora Musical e Consultora em Marketing Cultural. Ilustrações: Arquivo Pessoal

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Série Temática Edição Absoluta/Beleza. COORDENAÇÃO E DESIGN: RICARDO MARTINS. Foto-topo: Jéssica Pulla, bellydancer, clicada por Toni Bassil.