Qual é a sua, Beleza?

Você já reparou que, quando nos maquiamos, salientamos nossa beleza buscando imitar os mesmos sinais de quando estamos atraídas por alguém? Tipo lábios intumescidos e ruborizados, olhos grandes, e tal?
Existe, afinal, uma beleza pura? Ou tudo não passa de traduções culturais? É a reflexão que nos propõe MaFê Senger, professora de Hatha Yoga e Alinhamento Ósseo.
As imagens que ilustram a matéria foram especialmente cedidas pela artista plástica Carolina Jariwala.


Existe a beleza pura?
Ou a beleza é um mito, uma crença, um paradigma reinventado e redefinido segundo cada cultura, em cada época?
Ao longo do tempo, variadas formas de beleza foram definidas, em função de espelhar sinais pertencentes à suposta classe dominante.
Beleza, então, é uma questão de classe (social)?
De poder econômico?
E quem usa a sabedoria para conseguir ou manter a beleza?
Vivemos em uma época onde a informação e a possibilidade de pesquisa, auto-educação e disseminação de conhecimento está disponível como nunca se viu. E também vivemos uma sociedade de consumo que a cada dia estabelece processos e regras mais complicados. Com tudo isso, não é de se espantar que temos tanta dificuldade em nos entender (em ambos os sentidos: cada um entender, e, portanto, gostar de si mesmo e também entender o outro, e então aceitá-lo) e em nos colocar limites.
Beleza hoje costuma vir associada com sofisticação. Porém, sofisticado (= rebuscado, requintado) também significa sofismado, tem a mesma raiz de sofisma (= raciocínio vicioso, aparentemente correto e concebido com a intenção de induzir em erro). Sofisticado também pode significar falsificado.
A sofisticação pode vir disfarçada sob a forma de conforto, em investimento de tempo e dinheiro num objeto, procedimento ou numa engenhoca que supostamente nos poupará esforço ou dissabores futuros. A beleza sofisticada pode ser um paradigma.
Por exemplo: quando nos maquiamos, sofisticamos a nossa beleza buscando emular características observadas quando sentimos atração por alguém (lábios mais irrigados pelo sangue, portanto intumescidos e ruborizados; olhos grandes. Quantas vezes nos demos conta disso?).
Hoje, técnicas de cosmetologia oferecem muito mais do que lábios preenchidos para ambos os sexos, simulando características de fertilidade (seios grandes, relação cintura/quadril 0.7), juventude (nada de rugas, rosto de porcelana botulímica, seios que olham para cima, comprimidos azuis), boa massa muscular (nádegas, peitorais e panturrilhas postiças) e ócio (pele sempre bronzeada) como pretensos sinais de beleza salubre.

Existe, entretanto, a possibilidade de se construir uma beleza perene, conseguida através da alimentação simples e que dá alegria, da prática de exercícios regulares, do bem-estar que pouco necessita consumir e que dispensa o doutor e a farmácia, da manifestação de idéias equilibradas, da naturalidade em ser único e vivenciar uma idade que escape do intervalo entre 20 e 25 anos. E isto não significa negar permanentemente os “avanços” da medicina, da cosmetologia e do photoshop. É apenas uma questão de liberdade de escolha.

Cabe a cada um de nós verificar pessoalmente quais das belezas propostas atualmente são paradigmas. Não cabe a ninguém, a não ser a própria pessoa, discernir como compor sua beleza, seja ela relacionada aos valores impalpáveis ou à excelência da harmonia exterior.
O que se torna intolerável é ainda se deixar dominar pela preguiça de modificar hábitos inadequados ou se submeter a padrões alheios em nome de exibir uma beleza pré-fabricada.


FERNANDA SENGER
Ensina Hatha Yoga com aproximação pelo Método Iyengar, em aulas e oficinas com temas fechados, e leciona Alongamento e Alinhamento Ósseo no Estúdio em Cena (estudioemcena@bol.com.br)
mfesenger@terra.com.br
http://cafezinhometafisico.blogspot.com/2008/07/joguinho-de-montar.html
INDAIATUBA/SP


Ilustrações gentilmente cedidas: http://www.carolinejariwala.com

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Série Temática Edição Absoluta/Beleza. COORDENAÇÃO E DESIGN: RICARDO MARTINS. Foto-topo: Jéssica Pulla, bellydancer, clicada por Toni Bassil.