Tá a fim de perder a vida correndo atrás da perfeição?

É verdade, né? Há algumas décadas, não faz muito, mulheres de seios fartos queriam que eles sumissem!! Quantas fizeram cirurgia de redução...
E hoje? O que andamos fazendo? Encobrimos nossos aromas, maltratamos nossas madeixas, descuidamos de nossos ciclos, entupimos a pele de cremes que esticam e puxam... Vamos nos perdendo de nós mesmas.

“Que nos enfeitemos, sim”, convoca a psicóloga Juliana Garcia, “mas que mantenhamos viva a certeza de que somos mais do que os enfeites”.


Estamos cercadas por um sem fim de convites. Imagens, palavras, cores, promessas que carregam muitas mensagens, várias delas contraditórias entre si. Quem disse que nosso mais pleno prazer e nossa realização se restringem a alguma das limitadas opções apresentadas?! O fato é que muitas mulheres correm atrás dessas prometidas luzes no fim do túnel, sem se perguntarem quem construiu tal túnel, como foram parar lá, que tipo de luz está piscando e o que as aguarda se seguirem esse convite.
Vivemos num mundo guiado pelo artificial, ou seja, estamos cercadas por artifícios. Tão aderidas acabamos a estes que, em sua ausência, nos sentimos partidas. Sem o batom, sem o brinco, sem o anel, sem o sutiã do modelo x, sem silicone, sem o secador, sem o rímel, sem o esmalte, parecemos estar sem chão. Cada artifício passa a fazer parte da imensa máscara que construímos para dizermos ao mundo quem somos - ou quem acreditamos precisar ser.
Alguém (ou "alguéns"?) determina o modelo de corpo ideal, os acessórios, os adereços, a postura e o corte de cabelo ideais e muitas mulheres seguem sem sentir o que lhes corresponde ou não nessa história toda. Muitas sofrem por não poderem atender à moda, por não terem em si os padrões que são valorizados a cada momento. Se não os tem, compra. Se não pode comprar, está de fora. Se está de fora, não é ninguém.

Beleza construída em photoshop, beleza amarrada entre cintas, beleza alisada no calor, beleza conquistada na dor, beleza que não pode entrar em contato nem com água nem com vento nem com calor nem com frio, beleza que atropela a saúde, beleza que serve de vitrine, beleza vendida, beleza roubada. Que tipo de beleza realmente almejo?

Olhando-me no espelho, o que vejo de verdadeiramente meu? Se mudo a cada estação ao sabor das tendências externas, qual é o centro disso tudo? O que de fato faz parte de quem sou?
Mais perguntas...
Quantas mulheres magras queriam ser robustas há alguns séculos atrás? Quantas mulheres de seios fartos queriam que eles sumissem, há algumas décadas? E quantas agora correm atrás de uma prótese para estufar os seios? De todas, quem estará vivendo plenamente o presente, aceitando e cuidando do corpo que se tem? Esperaremos a próxima tendência para navalhar nossas carnes mais uma vez? Cabe perguntarmos também a que/quem serve tudo isso...

Verdadeiras assombrações sem expressão - Encobrimos nossos aromas, maltratamos nossas madeixas, descuidamos de nossos ciclos, nos rendemos a comportamentos que nos afastam do convívio com as pessoas, perdemos o instante correndo atrás de uma perfeição futura, entupimos a pele de cremes que esticam e puxam... Em muitos casos, tanto se estica e puxa que o efeito é o oposto do desejado: criam-se verdadeiras assombrações sem expressão.

Vamos nos perdendo de nós mesmas. Deixamos de ouvir, sentir, cuidar, nutrir, respeitar o corpo que é nossa morada e ponto de partida para nosso estar no mundo. Tão distraídas, perdemos nossa saúde integral de vista. Saúde que inclui beleza, bem-estar, abertura ao mundo, auto-cuidado, harmonia... e muito mais.

Nossas relações ficam sem sentido, o outro se torna um olho que serve para nossa auto-afirmação vazia. Vamos nos guiando pelas externalidades e deixamos de manter acesa a chama da beleza real, inteira, que transcende o tempo. A beleza que convida ao encontro, que nos faz querer estar perto, contemplar, compartilhar, que está no nosso olhar, no nosso toque, no nosso modo de relacionar. Beleza que se reabastece com cada ato de cuidado que temos conosco e que igualmente perde força à medida que descuidamos do essencial. Sem auto-estima, ou seja, sem estimar a si mesma, não há beleza que se sustente, porque não haverá parâmetro para escolher o que é ou não bom para si.
É preciso nos reconectarmos com a fonte de toda a beleza, que está dentro de nós, que independe de padrões, visto que nasce da singularidade, que independe de artifícios pois nasce da nossa natureza.
Que nos enfeitemos, sim, mas que mantenhamos viva a certeza de que somos mais do que os enfeites e que a beleza real está na mulher que sustenta a flor entre seus cabelos. Independente da aparência de outras mulheres, independente do olhar do outro, independente dos padrões vigentes, a sua beleza está em você e é única. Ela não está longe, nem perto, ela simplesmente está em você à espera de sua atenção e de seu reconhecimento.

JULIANA GARCIA
Psicóloga, Pós-graduanda em Psicodrama, Artesã, Facilitadora em trabalhos grupais com mulheres, Sócia-fundadora do "Espaço Revitalizar - Psicologia, Educação e Artes".
http://julianaggarcia.blogspot.com
julianaggpsi@gmail.com

BELO HORIZONTE/MG

Fotos: www.pbase.com e www.sxc.hu

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Série Temática Edição Absoluta/Beleza. COORDENAÇÃO E DESIGN: RICARDO MARTINS. Foto-topo: Jéssica Pulla, bellydancer, clicada por Toni Bassil.