
Neste artigo, a professora de dança do ventre e bailarina Brysa Mahaila mostra como a dança atua diretamente na imagem corporal.
Ela exemplifica com interessante pesquisa que realizou em seu curso de Pós-graduação em Dança, pela PUC-RS, em 2004.
Em seus estudos, verificou-se que, antes da prática da Dança do Ventre, 60% das entrevistadas tinham uma imagem regular de seu corpo, percentual que subiu para 85% já no início das aulas de dança.
Entre as mulheres pesquisadas, 95% afirmaram que sua imagem corporal melhorou com a prática da dança. Confira.
O tema da dança é um dos mais acessados na homepage do Absoluta, mês a mês...
A sociedade contemporânea levou a mulher à desconstrução da sua identidade feminina. Além dos diferentes papéis que lhe são impostos, a mídia destaca um ideal de mulher que, para a maioria, está distante de ser alcançado. Muitas atividades físicas, e até mesmo a moda, apontam para um perfil estético que distorce a imagem do corpo feminino. Essas questões geraram a necessidade de a mulher buscar uma alternativa que a auxiliasse no reencontro com o seu eu-feminino.
A dança oriental egípcia - a dança do ventre, como conhecemos no Brasil - é uma técnica de expressão corporal e artística, que permaneceu através dos tempos, encantando pelo seu exotismo e beleza, mas também pelos benefícios trazidos as suas praticantes. Por ser uma dança extremamente feminina e pela sua origem ritualística, trabalha aspectos profundos da psique, resgatando o feminino primitivo, fundamental para a mulher contemporânea.
No processo de busca do equilíbrio entre as aspirações profissionais e materiais com o bem-estar individual, as técnicas orientais vêm crescendo na preferência do público por tratarem o indivíduo de forma holística (corpo e mente). As práticas corporais orientais de tradição milenar, e, entre elas, a dança do ventre, trabalham pela respiração e movimentos pélvicos, o equilíbrio das energias através dos chakras, proporcionando uma série de benefícios físicos e emocionais, inclusive a prevenção de doenças psico-somáticas.
De origem remota, a Dança do Ventre é proveniente do antigo Egito, surgida há 7.000 anos a. C. Segundo a autora do livro "Dance e Recrie o mundo", Luccy Penna (1996), na sua origem esta dança tinha uma conotação sagrada, era realizada em Templos em rituais secretos só de mulheres, com o objetivo de reverenciar a deusa Ísis, arquétipo da Grande-Mãe, que dava forças e preparava as mulheres para a gestação e para o parto. As atribuições artísticas da dança só foram agregadas após a invasão árabe ao território egípcio, misturando as tradições e culturas dos dois povos.
A Dança do Ventre atravessou o tempo, agregou características de outras vertentes, modernizou-se, mas os movimentos característicos dos rituais primitivos e seus benefícios para a mulher só se fortaleceram. Por isso, essa dança milenar continua a ser procurada e desvendada por mulheres do mundo todo em pleno século XXI.

Para identificarmos as influências da Dança do Ventre na imagem corporal de suas praticantes, precisamos entender, através de revisão literária como se dá a sua construção. Entende-se, assim, por imagem do corpo humano a figuração de nosso corpo, formada em nossa mente, ou seja, o modo pelo qual o corpo se apresenta para nós. De acordo com o autor do livro "A imagem do Corpo - As energias construtivas da Psique", Paul Schillder (1999), pode-se chamar de imagem corporal, também, a imagem tridimensional que todos têm de si mesmo, e esta deve ser desenvolvida e construída.
A imagem corporal é uma das experiências básicas na vida de qualquer um. É um dos pontos fundamentais da experiência vital. Em qualquer atitude, desejamos modificar a relação espacial do modelo postural ou do esquema do corpo. Os objetos que usamos, as roupas, as posturas corporais, os penteados que adotamos, alteram objetivamente a imagem corporal, assim como a limpeza e a higiene também. Os seres humanos são cercados por suas imagens corporais. O uso de objetos e roupas é motivado pelo desejo de superar a rigidez da imagem corporal.
Outro fator a ser considerado sobre a formação da auto-imagem, é como os padrões de beleza, que são culturais e sociais, interferem na formação da imagem corporal. A mulher, quando percebe que seu corpo não está ajustado ao ideal do corpo feminino, na medida em que é internalizado, torna-o indiretamente responsável por sentimentos de culpa, frustrações e pelo aumento da ansiedade, segundo Luccy Penna (1989).
Toda a emoção modifica a imagem corporal: de acordo com sentimentos, o corpo se retrai e expande. A experiência do movimento, e principalmente da dança, leva o ser humano a descobrir-se emocionalmente e, com isso, descobrir a sua imagem corporal também (SCHILDER, 1999 ).
Pesquisando na prática - A teoria Reichiana, de Wilhelm Reich, além de explicar o funcionamento integrado do corpo e da mente na saúde e na doença, também propõe uma metodologia terapêutica que atua diretamente e conjuntamente sobre as funções anatômica-fisiológicas e psico-emocionais do indivíduo.
Seguindo o desenvolvimento da teoria Reichiana, de acordo com Federico Navarro,

Com isso, as perturbações psíquicas estão associadas a alterações funcionais do cérebro, que vão causar perturbações emocionais e comportamentais, além de disfunções corporais (couraças e doenças). Vários estudiosos de terapias corporais descobriram tratamentos eficazes através do mapeamento das emoções com estudos corporais e exercícios. Nas terapias do corpo, a ênfase é dada à expressão somática dos problemas emocionais ou dos complexos.
Entre os tratamentos utilizados, a partir da II Guerra Mundial, surgiram métodos mais dinâmicos de terapias, e, entre outros movimentos que nasceram, alguns foram influenciados pela dança. A bailarina Isadora Duncan, pioneira da dança moderna, abriu caminho para a dança como forma de expressão, e, juntamente com outras bailarinas, foram responsáveis no reconhecimento da dança como uma forma válida de terapia.
A construção da auto-imagem parte da imagem do corpo. Para Schilder (1999), entende-se por imagem do corpo a figuração de nosso corpo formado em nossa mente, ou seja, o modo pelo qual o corpo se apresenta para nós.
A pesquisa que foi realizada como meu trabalho de conclusão do Curso de Pós-graduação em Dança, pela PUC-RS, 2004, demonstra que, antes da prática da Dança do Ventre, 60% das entrevistadas tinham uma imagem regular de seu corpo, influindo na opinião sobre si como um todo. Para 85% da amostra, essa imagem se modificou a partir do início das aulas de Dança do Ventre, permitindo a 25% delas ficarem mais seguras sobre o seu próprio corpo. Para um percentual de 95%, a imagem corporal melhorou e, entre as melhoras observadas, destaca-se a correção postural e características físicas e emocionais, compondo uma nova auto-imagem corporal.
A construção da imagem corporal é integrada pela personalidade do indivíduo. Uma boa imagem é construída pelos conceitos positivos que se tem sobre si. A pesquisa comprova as hipóteses de que, através da Dança do Ventre, as mulheres ampliam conceitos de beleza, corpo ideal e sensualidade. A partir de novos conceitos sobre sua beleza singular, fortalecem a sua personalidade refletindo na sua auto-imagem como um todo e, conseqüentemente, na imagem do seu corpo, pois para 90% das entrevistadas essa imagem se alterou com a prática da Dança do Ventre.

Professora de Dança do Ventre e Jornalista
www.templodooriente.com.br
brysamahaila@terra.com.br
PORTO ALEGRE/RS
Fotos: Arquivo pessoal
Ilustrações: www.halobellydance.com e www.sxc.hu
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