Mulheres, sejam interessantes!

Numa conversa de bar, alguém disse: "É mais fácil namorar uma mulher extremamente bonita do que namorar uma mulher interessante, e o primeiro motivo é pela própria 'disponibilidade no mercado', pois mulheres estonteantes e belas estão por aí em todas as partes, enquanto que as mulheres realmente interessantes parecem ter sumido!"
Isso fez Andrea Carolino ficar pensando consigo mesma sobre o que significa, afinal, ser essa mulher interessante... Mais adiante encontrou Nelson Rodrigues dizendo que a beleza interessa apenas nos primeiros 15 dias...
Muito a ver com amor próprio e desconstrução de machismos, em homens e mulheres, essa alquimia toda resultou na reflexão que se segue.


Um fato é certo: nunca ouvi falar tanto em "mulheres interessantes" como nos últimos tempos.
Era um sábado à noite e estava dentre uma turma de jovens amigos solteiros, reunidos para um happy hour em um pub da cidade, quando em meio a uma animada conversa um deles confessa: "Acho que é mais fácil namorar uma mulher extremamente bonita do que namorar uma mulher interessante, e o primeiro motivo é pela própria 'disponibilidade no mercado', pois mulheres estonteantes e belas estão por aí em todas as partes, enquanto que as mulheres realmente interessantes parecem ter sumido; é uma espécie em extinção!" (sorrisos amarelos entre as mulheres presentes).
Após escutar inúmeras "discussões frutíferas" e "questionamentos semi-conclusórios", me pus a pensar: o que vem a ser uma mulher interessante, afinal? O que de tão especial tem essa "espécie em extinção"? Muito se fala sobre elas, mas quem é capaz de defini-las? Bem, a literatura sempre me foi um meio de lazer, o simples fato de ler um texto de boa qualidade me traz uma satisfação inenarrável. Sendo assim, certo dia tive a curiosidade de conhecer mais a fundo a biografia e obras de Nelson Rodrigues e, lendo uma de suas crônicas, deparei-me com o seguinte trecho:

Na "mulher interessante", a beleza é secundária, irrelevante e, mesmo, indesejável. A beleza interessa nos primeiros quinze dias; e morre, em seguida, num insuportável tédio visual. Era preciso que alguém fosse, de mulher em mulher, anunciando: "Ser bonita não interessa. Seja interessante!"



E mais uma vez a "mulher interessante" perseguia-me. Ok, agora era para valer, não poderia mais fugir do tema.
Ah, quer saber? Feminismo à parte, tenho que concordar plenamente com a essência retratada pelo autor. Por que a maioria das mulheres bonitas prima por ter a beleza como sua maior e imutável virtude? Estereótipo preestabelecido? Mas quem ditou essa regra? Ou melhor, por que ainda teimam em tê-la como regra? Culpa das ditas "mulheres bonitas" que se satisfazem com pouco ou não se impõem? Culpa da sociedade machista? Culpa, culpa, culpa... Não apontemos culpados (se é que realmente existem), mas façamos nossa parte.
Não estou aqui para levantar ou vestir a camisa do "Viva a beleza interior". Também não quero dizer que abdiquemos da vaidade e de certas futilidades femininas; afinal, todas temos nosso momento mulherzinha. O meu, por exemplo, está relacionado às unhas das mãos: sempre que as vejo para fazer ou mal feitas, sinto calafrios, faltas de ar e eminência de síncope!
Pois bem, para não dizerem que sou uma feminista, extremista, frustrada e que tenho inveja das mulheres bonitas... invertamos os papéis. O que você me diria a respeito dos homens bonitos? Talvez seja coincidência, mas os homens mais bonitos que conheci foram também aqueles que me causaram maior decepção e frustração.
Por fim, escrevi toda essa baboseira para poder dizer:
MULHERES, SEJAM INTERESSANTES!
Mas, ainda, eis a questão: como ser uma mulher interessante? Ou melhor, como destacar-se como uma mulher interessante em meio a uma sociedade que preza pela boa (eufemismo de excelente) aparência?
Creio que "ser interessante" envolve os mais distintos aspectos - estejam eles relacionados a atitude, comportamento ou ideologia.

"Ser interessante" é sentir-se como um todo, completa de tal forma que seja impossível observar-se por partes separadas. É atingir o perfeito equilíbrio entre os "eus" interior e exterior; é deixar transparecer a essência feminina acrescida de uma boa dose de cultura, inteligência, humor, autoconfiança e espiritualidade.

Portanto, mulheres, sejamos algo mais que uma cabeleira brilhosa com mexas californianas que emolduram um rosto besuntado de cremes anti-idade e minuciosamente maquiado, pertencente a um corpo que ostenta formas esculturais e longas unhas vermelhas. Deixemos aflorar nossa alma feminina que por ter sido denominada frágil, seduz e encanta por provar justamente o contrário.

ANDREA CAROLINO
Formada em Enfermagem pela Universidade Estadual da Paraíba, cursando MBA em gestão hospitalar e serviços de saúde

http://andreacarolino.blogspot.com
http://www.orkut.com.br/Profile.aspx?uid=8645030020625256290
andreacarolino@gmail.com

CAMPINA GRANDE/PB

Fotos: Arquivo pessoal

2 comentários:

Anônimo disse...

É isso Andrea, tema "quente" e acho que tu podes dizer sim, sem "baboseira", que Interessante é que somos Mulheres extremamente Bonitas porque, Interessantes e Bonitas estão contidas, fundidas na sua complexidade. Teus questionamentos cabem bem dentro de tantos velhos dilemas estéticos-expressivos, prático-morais e cognitivos. Agora sabe Andrea, acho que os homens tendem muito para o "ou" Bonita "ou" Interessante e de forma superficial. E nós, Mulheres, ainda aceitamos cair nessa armadilha perversa!! Até na de Nelson Rodrigues!! Legal "cutucares" este tema!! Um abraço da Elena. Até rimou!!

gisele cury disse...

Oi Andrea, passei 10 anos tentando entender o significado da palavra interessante, pois ouvi isso de uma pessoa muito querida, mas é vago imaginar que você é interessante para alguem........

Adorei sua interpretação, linda, perfeita e fiquei muito feliz.......

 
Série Temática Edição Absoluta/Beleza. COORDENAÇÃO E DESIGN: RICARDO MARTINS. Foto-topo: Jéssica Pulla, bellydancer, clicada por Toni Bassil.